“Eu confiava no meu livro, mas sem expectativa”, declarou o romancista Altair Martins, um dos ganhadores do Prêmio São Paulo de Literatura. “Sou autor de pouca visibilidade”, prosseguiu ele, que leciona literatura em Porto Alegre e tem 34 anos. Mais visível do que nunca, Martins também revelou ter feito uma aposta com o outro vencedor antes da divulgação do resultado. Caso um dos dois ganhasse, pagaria o jantar do outro.
Ronaldo Correia de Brito, escritor cearense, foi o outro vencedor da segunda edição do Prêmio. Seu romance “Galileia” (editora Alfaguara) é o melhor livro do ano. “A Parede no Escuro” (Record) deu o título de melhor autor estreante ao professor gaúcho. Brito e Martins, com ou sem troca de jantares, ganharão R$ 200 mil cada um.
A categoria de melhor livro do ano teve dez nomes concorrentes; autores como José Saramago (“A Viagem do Elefante”), Moacyr Scliar (“Manual da Paixão Solitária”) e Milton Hatoum (“Órfãos do Eldorado”). Entre os finalistas estreantes no romance, também dez, concorreram o psicanalista Contardo Calligaris (“O Conto do Amor”) e o professor mineiro Marcus Freitas (“Peixe Morto”).
Brito nasceu em Saboeiro, sertão dos Inhamuns, no Ceará, em 1 de outubro de 1950. Mora em Recife desde os 17 anos. É médico formado pela Universidade Federal de Pernambuco. Pesquisador, produziu vários textos sobre literatura oral e brinquedos de tradição popular e, em 2007, foi escritor residente e professor visitante da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Escreveu os livros de contos “As Noites e os Dias” (1997), publicado pela Bagaço, “Faca” (2003), “Livro dos Homens” (2005) e a novela infanto-juvenil “O Pavão Misterioso” (2004), todos publicados pela Cosac Naif. É autor, ainda, das peças de teatro “Baile do Menino Deus”, “Bandeira de São João” e “Arlequim”. Por sete anos, Brito escreveu a coluna Entremez, da revista Continente Multicultural (Recife). Atualmente, assina uma coluna semanal na revista Terra Magazine, do Portal Terra.
Durante entrevista coletiva, Brito afirmou que “desejava” o prêmio, mas não o esperava. “São Paulo é importante para mim, você nem imagina. É uma espécie de destino para todo nordestino.”
“Quando lancei As Noites e os Dias, em 1997, pela editora Bagaço, o poeta Alberto Cunha Melo escreveu que meus personagens são complexamente urbanos e habitam um sertão sem endereço certo, que pode estar em qualquer latitude”, disse Brito em junho na ocasião do
Para Antônio Gonçalves Filho, crítico do jornal O Estado de São Paulo, o modo de construção de Ronaldo Correia Brito em “Galileia” é cinematográfico. “Econômico, conciso, cortante, ele reúne os fragmentos da tradição oral e ergue uma catedral literária com os cacos da ruína sertaneja e da tragédia clássica”, destaca.
Em “Galileia”, três primos realizam uma visita emocional ao sertão, numa atmosfera que lembra, em certos momentos, um possível contato recente que se tenha feito com a obra de Khaled Hosseini, “O Caçador de Pipas”. Com o livro nas mãos ou na frente da tela grande: perspectivas, não mais do que isso, pers-pec-ti-vas de uma visibilidade emprestada.
por André Ferrer
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