Ode a Arthur
- Arthur como fazer as pessoas me entenderem?
- Impossível, minha cara, sentimentos tem a dimensão das nossas alegrias ou angústias, apenas das nossas.
- Isso me aflige, foram dias de horror, de pensar nela, perdida na mata, à mercê do improvável. Recordava-me, lembro com exatidão, do seu corpo pequeno, seus olhos assustados, cheguei a vê-la maltratada pelo frio, pela fome, tão perdida...
- Mesmo assim, fugiu de você. São assim todos dessa espécie. Cautelosos e arredios, assustados com aquilo que não compreendem e fogem por isso, ainda que a solução esteja a um passo deles. São como nós e contém nossos medos e mistérios, por isso tantos os rechaçam.
- Eu bem os compreendo, só lamento que os da minha espécie – quase todos – não realizem que meus sentimentos, embora tolos pareçam, merecem respeito, pois me atingem, me machucam. Invoco para isso a compreensão pela solidariedade, mas nem isso obtenho.
- Tome como lição jamais esperar do outro a atitude que você busca como amparo ou a que teria para doar. Dói menos esperar pouco dos nossos, o egoísmo faz parte da nossa essência.
- Vou aprender mais essa, na verdade já deveria ter aprendido, são anos viajando por estradas lúgubres e caminhos acidentados. Meus pés estão calejados, é necessário calejar a alma.
- Faça-o imediatamente. Qualquer aprendizado só tem valor quando nos protege de reincidir nos erros.
Assim travei um diálogo imaginário, nem por isso menos proveitoso e eloqüente, com Arthur da Távola. A despeito do quão louca possam me rotular, foi um desabafo solitário de quem resgatou – depois de 10 dias em franca agonia – sua gata persa. Mais alguns dias ela teria morrido e eu me esfacelado em tristezas ímpares e várias.
Terminada a profícua conversa com ele, reli seu artigo “Ode ao gato”, buscando entender o amor e fascínio que esses animais me provocam. Adormeci embalada pelo ronronar da Annouk e minha inquestionável loucura. Internem-me, façam-me objeto de estudo, não me importa. Desde que eu possa levá-la comigo.
CARMEN BENTES
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Texto incrível! Optei, misteriosamente, pelo outro Arthur, o da Távola Redonda, para ilustrar o texto curioso e, desde o início, pegador de Carmen Bentes. Agradecido pelo presente.
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